Em setembro, o Núcleo de Educomunicação
da Fundação Julita realizou a terceira edição do Minifórum de
Educomunicação, com o tema “Vamos Falar sobre Educação Sexual?”. A
discussão contou com a presença da enfermeira e especialista em docência
no ensino superior na área da saúde, Morgana Fagundes; da técnica em
prevenção de DST/HIV/AIDS, Tabata Alves, e das psicólogas Manuela
Crissiuma e Andrea Kathleen G. Killing. A mediação do debate foi feita
pelo psicólogo e coordenador do Centro de Educação em Saúde da Fundação
Julita, Agnaldo Vieira.
Estavam presentes cerca de 100 pessoas;
dentre elas, educadores, jovens, pais e comunidade. O debate girou em
torno das questões de educação sexual nas escolas e na família, abuso
sexual e legislações sobre o tema.
Para abrir o Minifórum, jovens do Programa Paineira fizeram uma intervenção artística a partir do documentário “Desumanidades – cinco relatos sobre violência sexual”. A intervenção abordou situações de assédio e abuso sexual, servindo como provocação para a discussão.
O que fazer diante do contexto em que estamos?
Agnaldo Vieira iniciou sua fala com
dados do território do Jardim São Luís, mencionou que o bairro é o que
mais apresenta indícios de casos de estupro dentro da cidade de São
Paulo, apesar de ser o território que mais tem equipamentos de proteção.
Também disse que, em 2015, houve mais de 2.100 casos de estupro somente
na cidade de São Paulo e que, neste ano, já foram registrados 1.400
casos. “O que fazer? Como fazer? Acredito que a educação faz parte desse combate”, afirmou Agnaldo.
A problemática nas escolas
Morgana Fagundes, em sua fala inicial,
contou sobre o trabalho que desenvolve nas escolas públicas do Jardim
São Luís e disse que, apesar do interesse dos alunos, infelizmente, são
poucos professores que apoiam o trabalho de educação sexual nas escolas.
Das 15 escolas em que atua, somente dois professores percebem a
importância do trabalho.
Outra questão apontada é a dificuldade
da aceitação da família sobre a educação sexual nas escolas. Segundo
Tabata e Andrea, ainda é um tabu falar de sexo e prevenção por fatores
culturais. Morgana afirma que o espaço do Minifórum já é uma abertura
para falar sobre o tema e mostra que discutir sobre esse assunto é muito
importante.
Violência doméstica
Andrea Killing disse que, na unidade de
Serviço de Proteção Social para crianças e adolescentes vítimas de
violência no Capão Redondo, 95% dos casos são de abuso sexual e a
maioria desses casos é de violência intrafamiliar, ou seja, está dentro
do ambiente familiar. Para Morgana Fagundes, o abuso não é somente o ato
físico, mas pode estar nas palavras, no jeito que se fala com o outro.
Já Manuela Crissiuma falou que quando se pergunta o que é abuso, grande
parte das pessoas já se refere ao abuso sexual e questiona: “Será que todo abuso é sexual? Como a gente define o que é abuso sexual?”
Segundo a psicóloga, se a gente não escutar o outro, sobre o modo como
ele se sente abusado, também estaremos o tempo inteiro cometendo abuso. “O abuso também se dá pela relação de poder”, afirma Manuela.
A psicóloga Andrea Killing afirma que,
pela lei, é considerado abuso sexual qualquer tipo de relação sexual com
crianças e adolescentes menores de 14 anos.
Aids entre os jovens
Um resultado da falta de informação e
orientação sobre o tema ainda gira em torno das doenças sexualmente
transmissíveis. Tabata Alves discorreu sobre dados referentes à
transmissão de DST/HIV/AIDS e afirmou que os jovens entre 12 e 24 anos
são os mais infectados com o vírus HIV e a infecção normalmente acontece
na primeira relação sexual.
A justiça existe?
O público também perguntou sobre a
legislação, sua funcionalidade e o porquê da demora na maioria dos casos
de abuso sexual. Para responder, a psicóloga Andrea Killing mencionou o
artigo 227 da Constituição Federal, que diz que é papel da família, da
comunidade, da sociedade e do Estado zelar, cuidar pelos diretos das
crianças e adolescentes. Porém, quando a família, a comunidade e a
sociedade não cumprem seu papel, o Estado intervém e essa intervenção às
vezes é invasiva.
“Há maneiras e maneiras de se intervir. Há limites”,
completa ela, que também reconheceu o quão ineficiente é o sistema
judiciário e quanto se torna cansativo para a família recorrer a ele.
O Minifórum terminou com algumas
provocações: Se a justiça é lenta e não cumpre o seu papel o que podemos
fazer? Como romper com a educação que nos é dada? Como garantir que
todas as pessoas tenham acesso a uma educação sexual que seja de fato
efetiva? Como romper com as relações de poder existentes, principalmente
a de gênero?
Para finalizar, Jânio de Oliveira,
gestor pedagógico da Fundação Julita, lembrou o quanto ter um espaço
como este é importante para a ampliação e o fortalecimento do
conhecimento e também para garantia de direitos. “É fundamental que todos se apropriem de espaços como o do Minifórum”, completou ele.
Você poder conferir como foi o evento, assistindo acessando os links:
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