No último dia 14 de setembro,
o Núcleo de Educomunicação da Fundação Julita realizou o 4º MiniFórum, que questionou a forma
como a mulher é tratada na sociedade a partir da reflexão e tema do evento: “A
mulher tem direito ao seu próprio corpo?”.
Para
levantar diversas questões pertinentes, convidadas especialistas em várias áreas
do conhecimento contribuíram para o debate. Com isso, com um auditório lotado
(reunindo mais de 100 pessoas), além de interações via rede social, a noite foi
repleta de reflexões.
A
presidenta da União de Mulheres, Rute Alonso, levantou que a atuação do sistema
jurídico nem sempre é adequada em relação às questões relacionadas ao corpo da
mulher. A advogada destacou que, mesmo existindo leis contra o aborto, por
exemplo, a prática é executada no dia a dia e precisa ser tratada por outra
perspectiva.
Mulheres mais pobres são maiores vítimas
de abortos em clínicas clandestinas
“O
aborto é uma questão de saúde pública, antes de ser contra ou a favor é preciso
considerar que é uma questão de vida ou morte. Muitas mulheres acabam fazendo o
procedimento em lugares inadequados, sobretudo as mulheres mais pobres, o que
aumenta as probabilidades de riscos”, argumentou.
Compartilhando
da mesma opinião, a psicóloga Sidneia Mochnacz, especialista em Gestão Hospitalar e Saúde Pública, que trabalha
há mais de 10 anos atendendo vítimas de violência sexual na rede pública de
saúde, reforçou que as leis restritivas contribuem para um maior número de
óbitos de mulheres. “Muitas mulheres têm medo de serem punidas e acabam
buscando formas clandestinas de realizar o abordo, o que muitas vezes pode
resultar em mortes”.
A sociedade que oprime as mulheres
Na mídia, na política, na educação, na cultura
e em várias esferas da sociedade, a mulher ainda é tratada como ser inferior ao
homem ou “objetificada”,
como
ressaltou a cientista social Anabela Gonçalves, que mediou o evento. “A mulher
não é apenas útero, ela é cérebro também. Desde a literatura antiga grandes
pensadores já retratavam as mulheres como seres inferiores ao homem e esses
pensamentos machistas foram se propagando ao longo da história”.
Seguindo
na mesma linha e expondo as formas de opressão, Sônia
Coelho,
assistente social, integrante da SOF – Sempreviva Organização Feminista
– e da coordenação nacional da Marcha
Mundial das Mulheres, reforçou o controle sobre o corpo feminino. “Faz parte da
sociedade a opressão para que a mulher não conheça o próprio corpo. Dessa
forma, é preciso debater os direitos das mulheres, as mulheres da vida real”.
Já para Danielle Silva,
integrante da coletiva Fala Guerreira e psicóloga, que atende mulheres vítimas
de violência, alertou que muitas não têm nem sequer noção de que são vítimas de
abuso físico ou verbal. “Há mulheres casadas que são abusadas por seus maridos
e demoram um tempo para que elas percebam a situação de relacionamento abusivo em
que estão inseridas”, analisou.
A necessidade do diálogo na comunidade
As principais vítimas
de violência e opressão são as mulheres negras da periferia, por isso, a
necessidade de abrir espaço para esse tipo de debate na região. “É importante
uma metodologia libertária em um território como este do Jardim São Luís. É
fundamental discutir com a comunidade sobre seus direitos. Por isso, a Fundação
Julita sempre abre espaço para o diálogo com respeito”, finalizou Jânio de Oliveira,
gestor pedagógico da Fundação Julita.
Sidneia Mochnacz |
Rute Alonso |
Danielle Silva |
Jânio de Oliveira |
Sônia Coelho
|
NÚCLEO DE EDUCOMUNICAÇÃO
Existente desde 2014, o Núcleo de Educomunicação da Fundação Julita une a comunicação (análise e apropriação dos meios) à educação, trabalhando conceitos fundamentais para o desenvolvimento do senso crítico, entendimento dos meios de comunicação e da mídia, além de ser um recurso importante para a produção de textos, imagens e conteúdo midiático. Com o intuito de promover a participação social e o exercício da cidadania, além de formações pedagógicas tendo como base a Educomunicação, o Núcleo já realizou dezenas de cines-debate com temas da realidade da comunidade e quatro MiniFóruns (o último realizado uma vez por ano). O e-mail do Núcleo é: nucleoeducom@fundacaojulita.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário