terça-feira, 20 de março de 2018

Empreendedorismo Feminino é tema do 1º Cine Julita do ano


O primeiro Cine Julita do ano exibiu o documentário “Mulheres que Transformam a Ilha”, que dá voz às mulheres empreendedoras das periferias de São Luís, Maranhão. Após a exibição, a diretora Monique Moraes e Ingrid Barros, diretora de fotografia do filme, participaram de um debate moderado pela educadora do curso “Gestão para o Comércio”, Renata Cristina Soares de Moura Oliveira. Participaram do evento em torno de 100 pessoas, de todas as idades.

 A intenção do documentário é inspirar e incentivar mulheres para o empreendedorismo social”, conta a diretora. Nas entrevistas que estão reunidas nos 32 minutos do documentário há muito mais que isso; o filme é um retrato da força que pode ter um grupo de mulheres que se apoiam em movimentos de empreendedorismo coletivo. Reúne histórias de protagonismo, relatos de sonhos realizados, talentos revelados, empoderamento e desenvolvimento.
Não queríamos colocar o holofote na vulnerabilidade e sim na força dessas mulheres, da comunidade”, conta Ingrid. Há uma fala no filme que ressalta isso: “quando olhamos para uma comunidade, vemos muitas vezes o que falta, a vulnerabilidade, mas o desafio é enxergar as oportunidades”.
A força do coletivo
Para a mediadora Renata, o que ficou mais forte da mensagem passada com o documentário é “a rede de mulheres se fortalecendo, a troca de saberes”. “Eu sempre gostei mais do empreendedorismo social do que do individual, da economia solidária, do associativismo”.
Acredito que o melhor seria termos um ecossistema mais próximo. Seria ótimo se conseguíssemos catalogar todas essas iniciativas (isso é uma necessidade do Maranhão e também daqui, do Jardim São Luís) e daí todas essas mulheres empreendedoras pudessem trabalhar juntas em rede”, acrescenta Monique.
Outros modelos de empreendedorismo
O documentário abriu espaço para várias discussões importantes, como outros modelos de empreendedorismo e o senso crítico até mesmo para empreender. Foi citada a crescente abertura de barbearias na comunidade; muitas vezes esse modelo é fomentado pela mídia ou por modismo, enquanto o importante é observar quais são as reais necessidades da comunidade. Criar necessidades que não existem é uma prática do capitalismo.
“A função do empreendedorismo é a transformação do entorno”, ressaltou Ingrid. “Em vez de ir para o modismo um empreendedor deveria fazer uma pesquisa no território, antropológica (conversar com os moradores) para descobrir qual é a demanda real. Sendo assim, a empreendedora ou empreendedor pode de fato colocar seu conhecimento para trazer impacto à comunidade”, completa Monique.
Neste sentido, diante da pergunta de como se destacar entre várias barbearias no bairro, Monique concluiu que é preciso subverter a ordem e quebrar padrões: por exemplo, vários ou várias profissionais de barbearia poderiam alugar o mesmo prédio, usá-lo no esquema de coworking, e até mesmo dividir o material. Assim diminuiriam as despesas com material e estrutura e todos teriam a possibilidade de venda.
Muitos também apontaram que a própria comunidade muitas vezes não valoriza essas iniciativas de empreendedorismo local. Preferem consumir longe de casa, enquanto poderiam comprar o que é feito no próprio bairro, valorizando e reconhecendo a economia local.
Também foram citadas formas de empreender não só envolvendo recursos financeiros, mas permutas, redes solidárias de mulheres que se ajudam, como o grupo de Facebook “Compro de Quem Faz das Minas - SP”. Outra dica é o “Garotas no Poder – Vagas”.
A produção do documentário
A ideia de produção do documentário “Mulheres que Transformam a Ilha” surgiu a partir de uma pesquisa da British Council que mapeou “Negócios Sociais e Empreendedorismo Feminino” no Brasil. O estudo revelou as seis maiores dificuldades das mulheres empreendedoras: além de conseguir capital (financiamento) e da falta de apoio dos maridos (que também aparece no documentário), pois alguns consideram que o trabalho fora pode atrapalhar as atividades domésticas, um ponto principal foi o de que as entrevistadas não encontravam outros modelos de mulheres empreendedoras para se inspirarem.
“Daí pensei no documentário, no audiovisual, com o relato de várias mulheres inspiradoras uma vez que estava mesmo gravando histórias de empreendedorismo como tema de estudo. Foi tudo muito rápido, precisamos de muito planejamento e foco, usei o que conheço de administração. As gravações aconteceram em uma semana, finalizamos em outubro, e o lançamento ocorreu 30 de janeiro”, conta Monique.
Faz um mês que o coletivo está exibindo o documentário com debates no Maranhão e em São Paulo. No dia 25 de abril, o vídeo estará liberado no Canal do Youtube do projeto que produziu o documentário, o Su Casa, Mi Causa: https://www.youtube.com/channel/UCDJTNDon2uRvUM_hLHlfDPg
No canal, já é possível ver entrevistas e teasers de mulheres empreendedoras que aparecem no documentário.
Para concluir, Renata reforçou que “precisamos e queremos nos juntar e a Julita é um potencial pra isso, a fim de mudar essas situações cristalizadas, pois a sociedade e a mídia fragmentam. Ser coletivo é uma atitude de dentro para fora”. “Precisamos estar em ação para conquistarmos esse ideal de sociedade e de igualdade”, concluiu Monique.
Um minuto de silêncio por Marielle Franco
No início do Cine Julita, foi proposto um minuto de silêncio pelo assassinato da vereadora do PSOL- RJ, Marielle Franco, que atuava em prol dos direitos humanos, uma das poucas vozes em prol da igualdade social e do fim da militarização da segurança pública.



Confira fotos do evento















Fotos: Otávio Martins

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