O primeiro
Cine Julita do ano exibiu o documentário “Mulheres que Transformam a Ilha”, que
dá voz às mulheres empreendedoras das periferias de São Luís, Maranhão. Após a
exibição, a diretora Monique Moraes e Ingrid Barros, diretora de fotografia do
filme, participaram de um debate moderado pela educadora do curso “Gestão para
o Comércio”, Renata Cristina Soares de Moura Oliveira. Participaram do evento
em torno de 100 pessoas, de todas as idades.
“A intenção do documentário é inspirar e
incentivar mulheres para o empreendedorismo social”, conta a diretora. Nas
entrevistas que estão reunidas nos 32 minutos do documentário há muito mais que
isso; o filme é um retrato da força que pode ter um grupo de mulheres que se
apoiam em movimentos de empreendedorismo coletivo. Reúne histórias de
protagonismo, relatos de sonhos realizados, talentos revelados, empoderamento e
desenvolvimento.
“Não
queríamos colocar o holofote na vulnerabilidade e sim na força dessas mulheres,
da comunidade”, conta Ingrid. Há uma fala no filme que ressalta isso: “quando
olhamos para uma comunidade, vemos muitas vezes o que falta, a vulnerabilidade,
mas o desafio é enxergar as oportunidades”.
A força do coletivo
Para a
mediadora Renata, o que ficou mais forte da mensagem passada com o documentário
é “a rede de mulheres se fortalecendo, a troca de saberes”. “Eu sempre gostei
mais do empreendedorismo social do que do individual, da economia solidária, do
associativismo”.
“Acredito que
o melhor seria termos um ecossistema mais próximo. Seria ótimo se
conseguíssemos catalogar todas essas iniciativas (isso é uma necessidade do
Maranhão e também daqui, do Jardim São Luís) e daí todas essas mulheres
empreendedoras pudessem trabalhar juntas em rede”, acrescenta Monique.
Outros modelos de empreendedorismo
O
documentário abriu espaço para várias discussões importantes, como outros
modelos de empreendedorismo e o senso crítico até mesmo para empreender. Foi
citada a crescente abertura de barbearias na comunidade; muitas vezes esse
modelo é fomentado pela mídia ou por modismo, enquanto o importante é observar
quais são as reais necessidades da comunidade. Criar necessidades que não
existem é uma prática do capitalismo.
“A função do
empreendedorismo é a transformação do entorno”, ressaltou Ingrid. “Em vez de ir
para o modismo um empreendedor deveria fazer uma pesquisa no território,
antropológica (conversar com os moradores) para descobrir qual é a demanda
real. Sendo assim, a empreendedora ou empreendedor pode de fato colocar seu
conhecimento para trazer impacto à comunidade”, completa Monique.
Neste
sentido, diante da pergunta de como se destacar entre várias barbearias no
bairro, Monique concluiu que é preciso subverter a ordem e quebrar padrões: por
exemplo, vários ou várias profissionais de barbearia poderiam alugar o mesmo
prédio, usá-lo no esquema de coworking,
e até mesmo dividir o material. Assim diminuiriam as despesas com material e
estrutura e todos teriam a possibilidade de venda.
Muitos
também apontaram que a própria comunidade muitas vezes não valoriza essas
iniciativas de empreendedorismo local. Preferem consumir longe de casa,
enquanto poderiam comprar o que é feito no próprio bairro, valorizando e
reconhecendo a economia local.
Também foram
citadas formas de empreender não só envolvendo recursos financeiros, mas
permutas, redes solidárias de mulheres que se ajudam, como o grupo de Facebook
“Compro de Quem Faz das Minas - SP”.
Outra dica é o “Garotas no Poder – Vagas”.
A produção do documentário
A ideia de
produção do documentário “Mulheres que Transformam a Ilha” surgiu a partir de
uma pesquisa da British Council que mapeou “Negócios Sociais e Empreendedorismo
Feminino” no Brasil. O estudo revelou as seis maiores dificuldades das mulheres
empreendedoras: além de conseguir capital (financiamento) e da falta de apoio
dos maridos (que também aparece no documentário), pois alguns consideram que o
trabalho fora pode atrapalhar as atividades domésticas, um ponto principal foi
o de que as entrevistadas não encontravam outros modelos de mulheres
empreendedoras para se inspirarem.
“Daí pensei
no documentário, no audiovisual, com o relato de várias mulheres inspiradoras
uma vez que estava mesmo gravando histórias de empreendedorismo como tema de
estudo. Foi tudo muito rápido, precisamos de muito planejamento e foco, usei o
que conheço de administração. As gravações aconteceram em uma semana,
finalizamos em outubro, e o lançamento ocorreu 30 de janeiro”, conta Monique.
Faz um mês
que o coletivo está exibindo o documentário com debates no Maranhão e em São
Paulo. No dia 25 de abril, o vídeo estará liberado no Canal do Youtube do projeto
que produziu o documentário, o Su Casa,
Mi Causa: https://www.youtube.com/channel/UCDJTNDon2uRvUM_hLHlfDPg
No canal, já
é possível ver entrevistas e teasers de mulheres empreendedoras que aparecem no
documentário.
Para
concluir, Renata reforçou que “precisamos e queremos nos juntar e a Julita é um
potencial pra isso, a fim de mudar essas situações cristalizadas, pois a
sociedade e a mídia fragmentam. Ser coletivo é uma atitude de dentro para
fora”. “Precisamos estar em ação para conquistarmos esse ideal de sociedade e
de igualdade”, concluiu Monique.
Um minuto de silêncio por Marielle
Franco
No início do
Cine Julita, foi proposto um minuto de silêncio pelo assassinato da vereadora
do PSOL- RJ, Marielle Franco, que atuava em prol dos direitos humanos, uma das
poucas vozes em prol da igualdade social e do fim da militarização da segurança
pública.
Confira fotos do evento
Fotos: Otávio Martins
Nenhum comentário:
Postar um comentário