quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Fundação participa de roda de conversa no Sesc sobre diversidade na infância

A Fundação Julita foi uma das convidadas a participar do “Ciclo Educar Hoje”, realizado em outubro no Sesc Campo Limpo, com o tema “As diferentes infâncias no território”.



Com o objetivo de apresentar a metodologia de educação ambiental da Fundação Julita na primeira infância, estiveram presentes no evento: a coordenadora do Centro de Educação Ambiental da organização, Flávia Cremonesi, e a coordenadora pedagógica do Centro de Educação Infantil (CEI), Carolina Regina dos Santos Souza.

O evento também contou com a participação do escritor e produtor cultural, Marcelino Freire, e de Paula Beatriz de Souza Cruz, licenciada em Pedagogia e Letras e também a primeira mulher transexual a se tornar diretora de uma escola na rede estadual de ensino na cidade de São Paulo.


Um dos assuntos abordados foi a ausência de espaços de brincar na periferia, sendo que a Fundação tem um espaço privilegiado e único. “Brincar é um direito efetivo e nos foi tirado esse espaço de brincar. Por meio da brincadeira se constrói a identidade, a criança se relaciona com o outro. O brincar é uma ferramenta mágica”, reforça a coordenadora pedagógica do CEI.

Flávia Cremonesi apresentou um conceito interessante ao citar a “Revolução das Picaretas”. “A comunidade é um espaço no qual as crianças não têm quintal. As ruas e as vielas são muito estreitas, sem calçada, e muitas casas não têm sequer janela. As crianças não têm espaço verde por perto. Há pouca vida, é muito árido! A criança até poderia encontrar esse contato com o orgânico na escola. Só que a escola tem colocado cada vez mais grades, em um processo de fechamento. Que tipo de indivíduo a sociedade quer criar assim? É preciso se fazer uma espécie de ‘Revolução da Picareta’: ‘quebrar o chão da escola, devolver a dignidade para as crianças’”, sugere ela.

A coordenadora pedagógica do CEI da Fundação Julita acrescentou: “ o espaço da escola tem muita riqueza cultural, as crianças trazem suas heranças. A escola precisa acolher a família e sua cultura. Em cima disso, é possível trabalhar o crescimento integral, a interação com o diverso, com diversas idades, o interagir com idoso, adolescente. É preciso um olhar sem julgamento, de acolhimento para as famílias, entender o que ela traz e, a partir disso, oferecer outras luzes. Criar junto”.



EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA JULITA
A proposta do Centro de Educação Ambiental da Fundação Julita é inovadora. Diferentemente do lugar comum de reciclagem, hortas etc., tem como base norteadora a Permacultura, que significa a “a cultura da permanência do homem na Terra”.

A Permacultura busca respostas de como cuidar do planeta, dos seres vivos e, ainda, fazer a partilha justa dos excedentes. Para isso, cria soluções para os ambientes. “Como a Fundação Julita tem um enorme potencial para experimentarmos algumas coisas e eu me deparei, no início da formação, com crianças sem ou com muito pouco contato com a natureza, com aflição de colocar as mãos na terra, percebi que era preciso recuar um pouco, resgatar o contato com os elementos naturais. Assim nasceu a metodologia ‘Os 4 Elementos da Natureza’, na educação infantil, com o objetivo de as crianças vivenciarem os elementos, essa relação do sentir para aprender”, conta Flávia Cremonesi.



A primeira etapa foi a sensibilização dos educadores para vivenciarem os elementos, envolvendo-os em atividades para brincarem com fogo, água, terra e ar. A construção das vivências com as crianças partem da história das educadoras. Em um segundo momento, foi feito um resgate das brincadeiras com os elementos com os pais, a fim de também conseguirmos a aceitação deles.

Atualmente, o projeto de educação ambiental da Fundação Julita é uma metodologia continuada, que vai da primeira infância até a juventude. Flávia finalizou sua fala lamentando o fato de a educação ambiental ter sido retirada do currículo da escola formal como tema transversal. Apontou que é preciso se pensar em um projeto para todas as faixas etárias e que a diversidade é fundamental e não apenas importante. “Como poderemos construir solução para os ambientes? Se acabarmos com a diversidade transformamos tudo em um deserto. Por isso somos um planeta vivo, graças à diversidade”, completou a coordenadora.

Carol encerrou dizendo que “Educação é persistência. O mundo fica à espera do primeiro passo para as coisas melhorarem e temos que dar esse primeiro passo”. O que, antes, poderia parecer utopia quando a educação ambiental chegou na Fundação Julita hoje é realidade: crianças se tornaram agentes ambientais e têm um contato mais próximo à natureza, mais amoroso e cuidadoso com os seres vivos.

OUTRAS VOZES
Com a moderação de Luciano de Souza, Marcelino Freire e Paula Beatriz de Souza Cruz trouxeram outras vozes para o debate. Marcelino ressaltou a importância da literatura em sua trajetória: “compreendi tudo que é singular e diverso pelo contato constante com a escrita e a leitura. Conseguia entender o que tinha nas entrelinhas. A literatura faz com que seu olhar vá além de si, que enxergue outros territórios”.


Com vasta experiência, Paula citou que a educação hoje é voltada para a formação para o mercado de trabalho e que a escola precisa ser reformulada: “A escola não tem espaço para cultura, esporte, para o brincar. A escola precisa estar aberta também aos familiares. Não vamos precisar mais de hospitais ou presídios se tivermos as escolas equipadas de fato, com qualidade. Eu penso que não devemos ficar esperando pelos outros para resolverem nossos problemas (citando os políticos). Se não formos nós para fazer agora, nós que estamos neste espaço, para movimentar, quem vai fazer por nós?”.

Ela também falou da importância da formação em gênero para refletirmos as desigualdades entre homens e mulheres e o respeito às diferenças e diversidades que cada criança representa: “podemos fazer a diferença neste território (educativo) se respeitarmos o individual de cada um. Não permitimos que as crianças falem, queremos que elas sempre fiquem nos ouvindo”, concluiu; colocação que reforça a importância de projetos como o Curumim e o de Educação Infantil da Fundação Julita, que colocam a criança no papel de protagonistas do aprendizado.

CICLO EDUCAR
O Ciclo Educar é uma das ações do Curumim, programa de educação não formal do Sesc São Paulo voltado para crianças de 7 a 12 anos, que, neste ano, traz o tema “As diferentes infâncias no território”, com o objetivo promover uma reflexão acerca das diversas infâncias no território, a importância do convívio e a potência deste diverso na formação de uma comunidade educadora. Teve seu início durante as comemorações dos 30 anos do Curumim, em 2017. Neste ano foi realizado de 9 de maio a 13 de junho em sete unidades do Sesc e, de 4 de setembro a 23 de outubro, será realizado em 15 unidades do Sesc São Paulo.

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